segunda-feira, 11 de maio de 2009


invasões francesas redux
























Relato muito certo da segunda invasão francesa, segunda parte, na ribeira do porto durante o passado fim-de-semana. As tropas tinham desfilado na noite de sábado, desde a cadeia da relação até à ribeira, convocando o povo para a memória do que não aprendeu ou não sabe. Na manhã de domingo os confrontos atingiram o auge, de um lado os exércitos luso-ingleses, do outro as tropas do imperador napoleão bonaparte. O cheiro a pólvora envolvia em fumaça toda a ribeira. No cais da estiva um canhão apontava para a outra margem do rio e disparava, pum, pum. Alguém afirmava que as batalhas serviam para as pessoas se divertirem anos mais tarde, muitos anos mais tarde. Um pai apontava ao filho pequeno quem eram os franceses, uma mulher gritava ninguém morre, caraças!, outra, enquanto tirava fotografias, comentava que não a tinham deixado montar ali no passeio uma banca de venda de tremoços. Na rua fonte taurina o confronto directo com os soldados portugueses pôs os invasores em retirada, já fogem! já fogem!, dizia alguém na multidão espremida contra as paredes das casas postal ilustrado que os turistas fotografavam das estreitas varandas do pestana hotel. De um lado e outro aproximavam-se os batalhões para o confronto final no cais da ribeira e é vê-los uns contra os outros corajosos e decididos. Alguém diz que não há sangue, ninguém morre, carago!, mas do lado do cais da estiva já há um no chão, e outro e outro. Um deles abre o olho discretamente a ver se está no lugar marcado. Risos e comentários brejeiros preenchem o ar queimado de pólvora, mas mais silencioso. Um deles com um facão corta o pescoço a outro para a fotografia. Aos poucos a praça vai ficando vazia, uma jovem no seu treino habitual ultrapassa a fita not trespassing, indiferente ao evento, dois polícias trocam olhares matreiros e sorriem. É uma hora, os cheiros dos petiscos confeccionados nos restaurantes invadem a rua e nas varandas as peças de roupa arejam ao sol desbotado do dia.


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