terça-feira, 13 de abril de 2010



arrumar a casa




Pensava chegar aqui e despejar verdades momentâneas, reflexões que assaltam os olhos quando a mente perdida segue o horizonte numa longa viagem de carro. Espanha novamente na Primavera. Estradas da vida easy rider para fugir a um país pintado de fresco mas velho de mais para jovens de ideias feitas à procura do tempo perdido. Não quero fazer nenhum exercício de reescrita. Não dá. Mas tenho saudades de me perder no sabor amargo das palavras,de as animar com o bater do meu coração, de sentir que por momentos foram minhas e que consegui um quadro mental inteligível quando, já de fora, as observei como quadros na parede. Espanha novamente, ou seria a América, o oeste americano, não sei. As indicações diziam nomes familiares, Leon, Burgos, Barcelona. E havia uma promessa surrealista, um cão andaluz a passear pelas ramblas coloridas e a subir a montjuic no teleférico para observar o mare nostrum e salivar diante da promessa nocturna de uma guitarra flamenca.

Pensava que tinha direito a um quinhão de sensações engelhadas mas perfeitamente legíveis. Dia e hora de entrada, preço e imagem das torres da Sagrada Família, neogótica e depois muito modernista. Inacabada para sempre forever Gaudi, sepultado na cripta. Espreitar pelo vidro com as mãos em pala e ele lá no fundo, ouvindo as máquinas a construir a sua floresta de árvores e animais e turistas a disparar flashs à queima roupa. Já da família de Gaudi, peregrinei pelo parque Guell ao som de flautas dos Andes como se estivesse nos Andes à procura de uma esmeralda perdida, mas sem tempo a perder.E foi ali, sem pedir nada, que me vieram encontrar estas flores da Páscoa, diz-se lá onde eu moro. Aqui. Flores de Páscoa. E vi a avó a cortar as flores diante de mim e a crescer como uma torre. As verdades eternas, as sensações cuidadosamente passadas a ferro que as viagens reavivam.

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