domingo, 22 de janeiro de 2012

manual de procedimentos







Vinham as palavras bater à porta da memória. Tudo parecia claro quando vinham. As pausas, a respiração, as imagens plasmadas nos ramos vazios das árvores, as nuvens adormecidas em movimento discreto para ocidente, o sol a dizer a distância absoluta do ser. Eu estava ali com os braços abertos, uma mão estendida para o céu, outra recolhida sobre a terra. Devia inclinar a cabeça para a direita e rodar sobre mim mesma, cumprindo o ritual da ligação entre o finito e o infinito. Egoísta, recusei esses últimos movimentos, desejando ver o filme completo, o limite sem deus. A porta fechou-se, as palavras deslizaram pela calçada da rotina em sucessivas vinte e quatro horas de ponteiros digitais. A imagem galante em rodapé continuava a ser a troika a dar a mão à bancarrota. Portugal, 22 de Janeiro de 2012.



* tela de Hammershoi.





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