sábado, 22 de novembro de 2008






é lá que tudo existe*

Um dia vi-te no meu país. Havia luz e os meus olhos estavam abertos. Não eras diferente do que eu imaginava, porque na minha ideia não tinhas forma, eras um diamante mas não tinhas forma. E isso deu-me a certeza de que te estava realmente a contemplar a ti e não a um vidro – como bem nos alerta o nosso santo literário padre vieira.
A contemplação é, como dizem os estudos místicos, uma comunhão silenciosa, um conhecimento completo e a vivência de uma experiência para a qual as palavras são desnecessárias. Por isso, quando te vi, soube que só o meu rosto poderia conter em si toda a sabedoria da descoberta e ousei lembrar-me de bernini e teresa d’ávila. Ousei.
No meu país, em que as estações suspensas nas despedidas (conforme estes dias de outono-verão) nos deixam a quietação dos afectos como o que de facto perdura para além das paixões inflamadas contra a justiça injusta ou as reformas e as revoluções fora de época, existes tu. E sei que um dia te vi.


*M. de Sá-Carneiro

4 comentários:

  1. Não sei qual foi o filme, mas o texto é muito belo.
    Importante, de facto, conseguir "separar as águas", o que nem sempre acontece, infelizmente.
    A permanência depende da limpidez do traço e da intensidade do desenho. Creio eu.

    bjs.
    bom domingo

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  2. Nenhum filme, moriana, o texto nasceu na praça, mas entretanto a praça encheu-se de gente.

    É verdade, nem sempre se consegue. Sim limpidez e intensidade, para que algo perdure.

    Beijinhos

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  3. A contemplação só pode ser silenciosa.
    É imperativo que o seja por definição.Qualquer som transforma-se em ruído, e a essência perde-se
    Beijo

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  4. Olá helena,

    Para se contemplar é preciso conhecer.

    beijinhos

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