sábado, 21 de fevereiro de 2009

arte de construir pontes




Hoje, tenho a certeza, é um bom dia para escrever. As palavras vão fluir na minha mente devidamente ordenadas. Poucas pausas deverei fazer e a escolha da palavra certa não será interrompida pela procura de sinónimos que diversifiquem o texto e me dêem um leque vocabular que ordinariamente não exibo. É certo que tal se deve a um estado de euforia e inconformismo que estes últimos dias de sol e mais calor têm depositado na minha alma ferida pelas desilusões da idade, mas também devo atribuir algumas responsabilidades, se assim posso dizer, às leituras que tenho vindo a fazer. Acabei a obra em muitas dimensões de flatland de edwin a. abbot, um livro escrito no século dezanove para todos os tempos, não só pela alegoria prometaica mas pela intemporalidade das formas geométricas, dos planos e dos sólidos, as únicas personagens a circular nesta trama. A mensagem alerta-nos para o perigo de olhar para o mundo do nosso ponto de vista e achar que é o mundo, ponto. Recuso-me também aqui a usar as maiúsculas na palavra mundo, mas este mundo preenche todo o espaço à nossa frente, como facilmente se compreende. E hoje comecei com a toccata, ou introdução a les bienveillantes de jonathan littel, e só a toccata ou introdução, deixou-me de rastos ou seja, tirou-me logo do meu ponto de vista, levou-me imediatamente para a quinta dimensão, para lá do tempo. Para me segurar entendi por bem numerar à margem do texto os argumentos de defesa, digamos assim, daquele oficial das ss cuja vida irei conhecer e que diz qu’il est un homme comme les autres, un homme comme nous.



.imagem: capa do livro Flatland. A minha edição é da Assírio & Alvim, mas dizem que está esgotada.

6 comentários:

  1. Aí é que está a questão: são todos como nós...

    (a capa é de um exemplar em inglês, atreveste-te?)

    bja, bom domingo de carnaval :)

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  2. Para ti, todos os dias são bons para escrever, as palavras não te fogem, elas brotam como pérolas de dentro de ti. Segui o teu rasto e encontrei-te cada vez melhor nos jogos das palavras e sentidos escondidos. Parabéns.céu

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  3. "alma ferida pelas desilusões da idade"?! então, então, tanta pena nem parece coisa tua...

    ahh, As Benevolentes.... é livro que quero conhecer (Vasco Pulido Valente já o leu por duas vezes), mas só depois de avançar de forma significativa na nova pilha que trouxe da Festa do Livro, no Pavilhão Rosa Mota

    por enquanto, dedico-me:
    - à muito interessante "História das Utopias" (assim descrito pelo blogue dotecome-leituras: escrita e editada em 1922 é uma obra singular, na qual Lewis Mumford faz a análise das utopias históricas, partindo da distinção entre utopias de escape e utopias de reconstrução, nestas incluindo a maioria das utopias literárias clássicas - de Platão a Edward Bellamy, passando por Thomas More, Bacon, Campanella e outros);
    - a um daqueles livrinhos da colecção Mistérios da Arqueologia, que têm saído no Público, mais especificamente sobre A ILHA DE PÁSCOA (para onde estou quase a partir e cuja história de destruição, chacina e negligência por parte das potências ocupantes e afins também nos parte o coração)

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  4. Flatland lÊ-se bem e levanta questões de perspectiva pertinentes e actuais na organização social e na evolução das espécies, com base nas leis da matemática e na geometria e, como sabes, há aqui um Prometeu, um quadrado :)

    Sim, a imagem está na net. Quanto às bienveillantes... é o post que segue.

    Beijinhos,

    Carnaval mixuruca, o meu.Espero que o teu tenha sido melhor

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  5. Céu, que bom que apareces!

    és muito simpática comigo. Vou escrevendo para dizer que existo.

    Beijinhos, volta sempre.

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  6. Tens razão, azuki, que lamechas é essa frase :)!

    Já vou bem adiantada nesta maratona das bienveillantes, acho que os próximos posts que aqui deixar vão ter que ser sobre isto, forçosamente.

    Vais contar também sobre a ilha de Páscoa. O Chile para mim, já está aqui muito perto, graças ao que vais escrevendo no LP.

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