sexta-feira, 1 de julho de 2011





foi assim que regressei à leitura de llansol: estava a mastigar umberto eco e o seu cemitério de praga quando, por entre receitas culinárias, ementas sofisticadas e canos de esgoto, o narrador (o padre ou o falsário?) nomeia teresinha do menino jesus numa das muitas digressões narrativas que cobrem o final do século dezanove, e que dão enquadramento legal àquelas histórias encomendadas para contarem exactamente o que se passou - ou não - no cemitério de praga, afinal um obscuro cemitério de judeus portugueses na paris maçónica. lembrei-me então que teresinha estava à minha espera há mais de dois anos pela voz de gabriela, ou gabriela estava à minha espera com fragmentos místicos de teresinha dispostos na margem de um rio, que poderia ser o alster, o tejo,mas é o douro. foi pelo douro que teresa regressou de lisieux e se sentou à entrada da vida de gabriela e agora da minha. urbano tavares rodrigues diz de ardente texto de joshua que é de difícil leitura, no entanto, absolutamente fascinante. uma escrita que recusa a representação romanesca e se processa em permanente construção/desconstrução do texto, num bordado de poemas, diário e reflexões filosóficas que revelam deus. teresinha e gabriela estão num restaurante, no porto. esperam que um criado descerre a cortina para ser olhada a rua. teresinha pergunta a gabriela que nome dariam ao desejo de morrer se viesse incluído na ementa. talvez, disse gabriela, veau à l'imaginaire. nesse momento, teresinha viu, de nariz esborrachado contra a vidraça, um garoto portuense. eu atrevo-me a dizer: não é um rapaz, é uma rapariga ou, se quiserem, uma dona do tempo antigo.

Maria Gabriela Llansol, Ardente Texto de Joshua

Relógio dÁgua

imagem de Santa Teresinha e citação de Urbano Tavares Rodrigues retiradas da net.






2 comentários:

  1. :) Que bom voltar aqui, perceber que adoptaste um estilo que prescinde das maiúsculas, embora não goste. Valter Hugo Mãe utiliza-o e acho que perde... mas são opiniões. Não li Llansol, fiquei curioso. Quanto a Eco, pelo que escreveste, parece difícil de degustar. Quanto à tua escrita, gosto cada vez mais. Beijos

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  2. Olá Duarte.Entende a ausência de maiúsculas como uma extravagância passageira. De facto, até atrapalha a leitura, mas eu gosto, às vezes. Sei dessa particularidade no autor de que falas e assim, em grande (que é como quem diz em livros nos escaparates) não tem graça nenhuma, do meu ponto de vista.

    Sim, o Cemitério de Praga, de Umberto Eco, acaba por ser um pouco repetitivo nas temáticas da maçonaria, dos Templários, do outro no espelho. Mas é bom! Sobre Maria Gabriela Llansol, não há explicação, é ler e deixar-se levar pelas palavras.

    Vamo-nos falando então. Pretendo continuar com as minhas reflexões.

    Bj.

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