terça-feira, 17 de março de 2009



je ne regrette rien
















Concordo com maximilien aue quando, na contracapa do livro, diz que les seules choses indispensables à la vie humaine sont l’air, le manger, le boire , et l’excrétion, et la recherche de la verité. Claro que excluiu a sorte.
No seu contexto de vida a sorte foi essencial, ainda que estivesse do lado dos algozes, para que pudesse contar já velho páginas e páginas de verdades sociais e ideológicas, ou individuais e escatológicas, suficientemente ficcionadas para não tornar les bienveillantes um tratado de psicologia e afins, ou não fosse esta uma obra literária criada para deleite, uma situação privada de domínio público para quem tiver a disposição de ler le pavé em papel bíblia que a folio disponibiliza a preço módico.

Maximilien deixa-se ver na procura da verdade, e nas outras coisas indispensáveis também. E outras não tão indispensáveis, de acordo com a sua teoria, como a necessidade de lembrar ou de esquecer.

Lembrar e esquecer são duas acções fundamentais para entender maximilen. Por exemplo, lembra muito bem o dia em que entrou no teatro municipal de stalinegrado, transformado em hospital para os soldados alemães. A beleza do interior do edifício ainda visível nos pormenores da imponente sala, apesar da destruição, lembrou-lhe a casa da mãe e do padrasto no sul da frança onde viveu dias feéricos na companhia da irmã gémea até ser obrigado a partir. Mas esqueceu por completo o que se passou quando a mãe e o padrasto foram assassinados. Esqueceu o que fez nessa noite. Diz que se deitou cansado depois de ter passado o dia na cidade e adormeceu. Saber aquela verdade não lhe interessava muito.

Surpreende-me uma personagem que conta tudo, desde a indiferença sentida diante da morte de milhares de judeus a que assistiu na ucrânia até ao sonho incestuoso debaixo do fio metálico da guilhotina, passando pelo encontro ocasional que o confrontava com a realité sordide et amère du désir, e me esconde uma circunstância, uma acção e um interveniente. Mas calar também é uma forma de dizer, não é?


Nota: a imagem não tem nenhuma relação com o escrito, mas este é um blogue com vista sobre a cidade, aqui nocturna e líquida.



2 comentários:

  1. Dizem que a nossa mente é selectiva, guardamos o que nos marca profundamente. Às vezes, não lembramos, inconscientemente.

    Vista sobre a cidade? Nome giro para um blog.

    bjs.

    ResponderEliminar
  2. Ainda não consegui terminar, não sei se é um esquecimento estratégico.

    Gostaste da expressão para um blogue?:) Vá lá, toca a criá-lo.

    Beijinhos

    ResponderEliminar

Arquivo do blogue